Mariana Branco – Repórter da Agência Brasil
Com o início do último trimestre de 2015, começa a correr o prazo para
Mercosul e União Europeia (UE) trocarem ofertas para um acordo de livre
comércio entre os blocos econômicos. Os três meses finais deste ano são o
período agendado com os europeus para a apresentação mútua de listas de
produtos que poderão ter a tarifa zerada. Na quinta (1º) e sexta-feira
(2) passadas, as delegações do Mercosul e da UE se reuniram no Paraguai
para acertar os últimos detalhes.
O Ministério das Relações Exteriores informou que, agora, caberá aos
chanceleres e ministros da área econômica do Mercosul avaliar o
resultado das reuniões em Assunção e decidir quando a troca ocorrerá. O
ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando
Monteiro, tem defendido a troca de ofertas ainda em outubro. As
negociações para um acordo entre Mercosul e União Europeia começaram no
fim da década de 1990 e, desde então avançam de maneira inconsistente.
Em 2004, chegou a acontecer uma troca de ofertas entre os blocos, que
não resultou em acordo [1]. Em 2010, as negociações foram retomadas [2]
mas a troca de ofertas agendada para 2013 não aconteceu. Segundo o
Itamaraty, para serem consideradas satisfatórias, é esperado que as
ofertas desonerem de 85% a 95% do volume do comércio de cada bloco
econômico.
Na avaliação de Antônio Jorge Ramalho, professor do Instituto de
Relações Internacionais da Universidade de Brasília, o acordo entre
Mercosul e União Europeia é positivo e necessário para os países
latino-americanos. “De um lado, você tem necessidade de abrir os
mercados para, no médio e longo prazo, reduzir os preços e a pressão
inflacionária nas economias do Mercosul. Do outro, há o interesse em
tornar as indústrias locais mais competitivas. Dar mais
sustentabilidade, no longo prazo, às indústrias da região”, afirmou.
Ramalho lembra, no entanto, que o aumento da concorrência pode penalizar
as empresas que não investem em tecnologia. “As indústrias que não
investiram suficientemente em tecnologia vão ter que pagar um preço. Vão
ter que, ou sair do mercado, ou dar um salto”, afirmou o professor, que
considera o acordo oportuno, em um momento de contração da atividade
econômica brasileira. “Na situação atual, vai ser muito positivo. Isso
passa a integrar a estratégia de reativação da nossa economia”, disse.
Na visão dele, o Mercosul é mais responsável pelo atraso na negociação
do acordo do que a União Europeia. “Por muito tempo, o principal
obstáculo era a Argentina, pelo custo político que teria no curto prazo.
Ela tem dificuldade em estabelecer trocas mais abertas por causa dos
seus problemas de competitividade. Mas, do ponto de vista sistêmico,
isso é necessário para o Mercosul e inclusive para a Argentina”.
Apesar de não conhecer o teor das propostas atuais, Ramalho acredita que
esteja havendo entendimento entre os blocos econômicos, já que as
negociações estão avançando. “Essas coisas não se fazem isoladas. Eles
vão sinalizando, é um processo de negociações. A dinâmica normal é que,
quando é apresentada a proposta, a outra parte já está sabendo [o
teor]”, declarou.
Edição: Denise Griesinger
Fonte: Agência Brasil (EBC)
Publicado em: 05/10/2015
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